O sector das rochas ornamentais exporta já 70% do que produz, correspondendo a um pouco mais de 300 milhões de euros, e as exportação subiram 28% no primeiro trimestre deste ano. As associações sectoriais frisam a importância da actividade para a economia do País, mas a Oikos alerta para a pressão que coloca sobre o ambiente, nomeadamente na zona das Serras de Aire e Candeeiros. |
Nos primeiros três meses do ano Portugal exportou 86,8 milhões de euros de rochas ornamentais, um crescimento de 28% face aos 68 milhões do período homólogo, revelam os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística. De acordo com a Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins (Assimagra), este sector exporta já 70% da sua produção, ou seja 301 milhões de euros (em 2011). Vale 1,5% das exportações portuguesas. Apesar da queda em alguns mercados a Europacontinua a ser o principal destino e até cresceu 35% no primeiro trimestre. Já as vendas para fora desse espaço subiram 22%. Numa análise segmentada, constata-se que no primeiro trimestre deste ano as maiores subidas de exportação foram nos granitos (54%) e nas ardósias (49%). Seguiram-se as pedras para calcetar (32%) e os mármores e calcários (11%), produtos com grande importância na nossa região. Miguel Goulão, vice-presidente da Assimagra, explica que este aumento das exportações se prende com dois factores: por um lado, a paragem no mercado nacional obrigou as empresas a procurarem alternativas lá fora; por outro, a “credibilidade” e a qualidade da produção nacional têm motivado um aumento da procura por parte dos clientes estrangeiros. “Veja--se o caso de França, para onde só vai produto acabado”, refere o responsável. Este país é agora o principal destino das exportações, tendo registado um aumento de quase 56%. Também Victor Albuquerque, presidente da Associação Nacional da Indústria Extractiva e Transformadora (ANIET), destaca o peso do sector das rochas ornamentais. No recente encontro nacional da construção e imobiliário frisou que a sua extracção e transformação “revestem uma importância extrema para a actividade económica do País” e lembrou que “muitas são as empresas que desenvolvem actividades de exportação, constituindo desse modo um valor acrescentado significativo, não só pelo facto de se tratar de um recurso geológico, mas também pelo factor mão-de-obra incorporado nos produtos correspondentes”. Opinião contrária tem Nuno Carvalho, da associação ambientalista Oikos, para quem o aumento das exportações “está a fazer-se à custa da exploração”, situação que considera “grave”. Referindo-se aos blocos, diz que “estamos a exportar matéria-prima sem qualquer valor acrescentado”. “Não somos contra a exploração, mas defendemos que essa extracção deve ser feita de forma racional e que traga benefícios aos territórios e populações locais” (que sofrem com poeiras, ruído e degradação da rede viária), “mas não é isso que acontece”, visto que muitas vezes a mão-de-obra nem é local, diz.
Impactos ambientais “Voracidade” de exploração ameaça paisagem “Com a voracidade e a velocidade a que está a ser feita a extracção de blocos” na área do Parque Natural das Serras d´Aire e Candeeiros “podemos pôr em causa um conjunto de outros recursos da região, nomeadamente o turismo de natureza”, afirma Nuno Carvalho. Lamenta ainda que o plano de ordenamento daquele parque seja “muito permissivo”, permitindo que os empresários recuperem antigas pedreiras de calçada para ampliar as zonas de exploração de blocos, quando na verdade se trata de actividades com impactos diferentes. Miguel Goulão frisa que os empresários reconhecem o “impacto negativo” da extracção em termos paisagísticos, mas garante que o sector “está consciente de que para continuar a actividade tem de devolver à comunidade o que já explorou”. Refere que o projecto piloto a implementar naquele parque, que prevê uma recuperação integrada, “poderá resultar numa alteração de paradigma”. O vice- -presidente da Assimagra lembra que a lei actual apenas obriga à recuperação das pedreiras no final da sua vida útil, o que se traduz em impactos visuais enormes. “Às vezes a actividade deixava de ser viável mas os bu- racos ficavam [na exploração] sem ninguém ser responsável”.
In Jornal de Leiria |
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