10.6.06

O. da Veiga Ferreira

Biografia de Octávio Reinaldo da Veiga Ferreira (1917-1997).
Por João Luís Cardoso


O. da Veiga Ferreira nasceu em Lisboa, a 28 de Março de 1917, e faleceu nesta mesma cidade, a 14 de Abril de 1997. Obtido o diploma de Engenheiro Técnico de Minas, em 1941.
O seu primeiro emprego após ter concluído o curso foi na Comissão Reguladora do Comércio dos Metais (1941), transitando em 1944 para a Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos e, em 1950, para uma das suas subdirecções-gerais, os Serviços Geológicos de Portugal, de onde se aposentou em 1987. Foi nessa grande e beta casa, de tradições centenárias, que veio a desenvolver notável actividade, que justamente o transformou numa das figuras de referência incontornável da Arqueologia nacional e peninsular.
Como técnico de Geologia e Minas, foi chamado a colaborar em prolongados estudos e trabalhos de campo, com destaque para os de cartografia geológica, no decurso dos quais teve oportunidade de desenvolver os seus dotes de observação e de satisfazer a sua insaciável curiosidade científica. Deste modo, veio a descobrir importantes estações e monumentos arqueológicos, que depois, e de acordo com as possibilidades que as chefias lhe concediam, procurou explorar, recorrendo ao longo dos anos a diversificada colaboração para tal efeito. Nesse contexto, encontrou particular apoio e interesse por parte do seu antigo director e amigo pessoal, o Eng. António de Castello-Branco, em desenvolver tais actividades, as quais eram firmemente protegidas pelo seu imediato superior hierárquico, o Doutor Georges Zbyszewski, eminente geólogo e, ele próprio, arqueólogo pioneiro em Portugal do estudo das indústrias paleolíticas dos terraços fluviais e das praias antigas do litoral português, desenvolvido com H. Breuil.
As suas qualidades vieram ao de cima e, já antes da entrada para os Serviços Geológicos, dispunha de um brilhante curriculo como arqueólogo, que veio a ser muito potenciado pela sua formação e experiência profissionais - como engenheiro e como naturalista -, as quais lhe permitiam o tratamento interdisciplinar de questões de índole arqueológica, quando tal propósito era quase desconhecido e impraticável em Portugal. Foi, neste sentido, um precursor, sendo natural continuador da brilhante investigação desenvolvida nas últimas décadas do século XIX pelos geólogos da então Comissão Geológica: Carlos Ribeiro, Pereira da Costa e Nery Delgado. Assim se explicam os trabalhos sobre as faunas ictiológica, carcinológica e malacológica do concheiro de Moita do Sebastião, Muge, este apresentado em 1954 ao IV Congresso Internacional de Ciências Pré e Proto-históricas, reunido em Zaragoza; sobre a petrografia de artefactos de pedra polida; sobre a mineralogia de objectos de adorno pré-históricos e, sobretudo, sobre a paleometalurgia, vindo a desenvolver a hipótese, hoje indiscutível, do arsénio contido em artefactos da idade do Cobre das estações portuguesas, ser consequência da sua presença natural nos minérios originais e não da sua adição intencional.
(...)
No início da década de 1960, vemo-lo com Camarate França e Jean Roche empenhado no estudo do Paleolítico superior, ainda quase completamente desconhecido. Os resultados obtidos na escavação da Gruta das Salemas, uma das mais importantes estações do Paleolítico superior até ao presente exploradas em Portugal, merecem destaque, tendo ali sido identificados diversos níveis atribuídos ao Solutrense e ao Perigordense. Tais resultados animam-no a publicar artigo de síntese sobre o Solutrense em Portugal (1965), vindo a reconhecer peças foliáceas absolutamente típicas, em diversos conjuntos pré-históricos, que até então tinham passado despercebidas. Identifica ainda outras ocupações do Paleolítico superior, e realiza escavações na Gruta da Ponte de Lage, Oeiras, com Jean Roche e Maxime Vaultier (1958), e, mais tarde, na Lapa da Rainha, Vimeiro (1968), com Fernando de Almeida e Manuel Farinha dos Santos, onde foi isolado um nível rico em coprólitos de hiena.
Em 1962, um tiro de pedreira pôs a descoberto uma gruta, até essa altura desconhecida: trata-se da Gruta Nova da Columbeira, Bombarral. As escavações que ali dirigiu, com Jean Roche, apoiado por um grupo de arqueologia local, evidenciaram notável sequência ocupacional mustierense, com abundantes indústrias líticas, representadas por vários milhares de artefactos, faunas e um dente decidual de neandertal, o primeiro que se descobriu em território português, publicado em 1965 por Denise Ferembach. As datas de radiocarbono que ulteriormente foram obtidas no laboratório de Saclay, constituíram o primeiro indício de uma inusitada modernidade para tal presença humana, apenas aceite recentemente, por via de outras datações, entretanto obtidas em grutas do Sul peninsular. Sobre esta gruta, viria a publicar pequeno estudo intitulado "O mais importante nível de ocupação do caçador neandertal da Gruta Nova da Columbeira", inserido no volume de homenagem ao seu companheiro de sempre, e compadre, pois que era padrinho dos seus dois filhos, o Doutor Georges Zbyszewski.
Os notáveis resultados obtidos nas Grutas das Salemas e da Columbeira chegariam para colocar Veiga Ferreira entre os arqueólogos mais importantes no âmbito dos estudos paleolíticos em Portugal e mesmo da Península Ibérica.
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