Quem anda pendurado com alguma frequência, deve estar consciente dos perigos que pode representar para si próprio, o simples facto de estar pendurado...
Os sintomas principais deste síndrome são: a perda de sensibilidade nos membros, o enjoo e tonturas, que poderão provocar vómitos e desmaios.
Aqui fica um resumo de um trabalho que me enviaram.
Síndrome de Boudrier ou trauma de suspensão
"Afinal de contas parece que tudo tem a ver com o facto de ainda não sermos geneticamente evoluídos!
Esta síndrome muitas vezes esquecida esta associada a um fenómeno bem descrito nas ciências médicas como “orthostatic syndrome” e “orthostatic syncope” (como o documento onde fui buscar a informação esta em inglês, ficam os termos originais para não meter argoladas).
Esta “patalogia” resulta, aparentemente, de não estarmos ainda totalmente adaptados à posição de “bípedes”, o que em situações de imobilidade potencia a acumulação de sangue venoso nos membros inferiores, situação que se agrava com o tempo de permanência nessa posição.
Os militares já há muitos anos que conhecem este problema que lhes surge com alguma frequência nas longas paradas, no que respeita a sua manifestação em indivíduos suspensos em cordas, os primeiros documentos publicados acerca do assunto remontam a 1968, incrível não é! Principalmente, quando muitos ainda acham que a síndrome é um mito."
Abraço
Pedro Tiago Martins
3 comments:
O síndrome do Boudrier resulta no fim de contas da falta de retorno do sangue venoso, que por estar bloqueado nos membros inferiores (uma área consideravelmente grande)continua a acumular CO2 e produtos do metabolismo, poedendo deste modo tornar-se venenoso e por isso letal para o nosso próprio organismo, quando entra novamente em circulação, daí resulta que a intervenção deve ser o mais rápida possível, desbloqueando o acidentado.
Os espeleólogos adoptaram, no início dos anos 70 do século XX, novas técnicas de progressão na vertical. Em vez do tradicional método de descer e subir por escadas ou descer por corda e subir por escadas, modificaram e desenvolveram técnicas aplicadas em montanhismo usando apenas cordas fixas em vez de escadas (daí a designação de “técnicas de espeleologia alpina”). Os espeleólogos passaram a usar arnês e a progredir por cordas fixas através de aparelhos e técnicas específicos. Depois de alguns anos dessa prática surgiu um novo fenómeno: a morte de espeleólogos suspensos na corda! (As mortes devido a estar suspenso e imóvel numa corda já eram conhecidas há várias décadas pelos montanhistas.) De início, foi assumido que essas mortes seriam provocadas por esgotamento e/ou hipotermia, no entanto o aumento considerável de casos levou ao estudo do fenómeno e aos consequentes resultados. Muitas dessas mortes foram na verdade provocadas pelo Sindroma do Arnês - Suspension Trauma, Harness Induced Pathology, Harness Hang Syndrome (HHS) ou Compression Avascularization/Re Perfusion Syndrome (CARP).
O fenómeno que ocorre devido a estar imóvel em pé é bastante conhecido (sindroma ortostático ou choque ortostático), o fenómeno resultante de estar suspenso e imóvel é semelhante (sindroma do arnês). A maior parte dos autores pensa que o sindroma do arnês resulta do aprisionamento de sangue venoso a nível das pernas com resultados similares aos provocados por um choque hipovolémico; um distúrbio caracterizado pela insuficiente perfusão e oxigenação dos orgãos e tecidos. A retenção de sangue no sistema venoso reduz o volume de sangue em circulação para o coração com consequente perturbação do sistema circulatório. O débito cardíaco e a pressão arterial caiem, o que pode provocar uma critica redução da quantidade e/ou da qualidade do sangue (oxigenado) que flúi para o cérebro, o que precipita a sincope. A presença de água facilita o fenómeno. O pânico também pode desempenhar um papel importante.
Foram realizados estudos sobre o sindroma do arnês, pelo menos desde 1968, na Grã-bretanha, EUA, França, Alemanha, Áustria, Austrália, Espanha, etc. Os interessados podem consultar o trabalho de Paul Seddon, Harness suspension: review and evaluation of existing information, onde se encontra o resumo dos conhecimentos sobre a matéria, no endereço:
http://www.hse.gov.uk/research/crr_pdf/2002/crr02451.pdf#search='Harness%20suspension:%20review%20and%20evaluation%20of%20existing%20information'
Importante é saber que o sindroma do arnês deve ser prevenido e quando ocorre requer uma actuação rápida e correcta. Um resgate desadequado de uma pessoa suspensa pode ser a causa da sua morte: “The conclusions were that a montionless subject in a chest harness/sit harness combination is subject to orthostasis with pooling of the blood in the lower extremities, subsequent irreversible protracted shock, and mountain climber`s “rescue death”. Rescue death is believed to be result of an acute overload of the right ventricle, resulting in right ventricle failure, due to a sudden return of blood from the lower extremities, where it had pooled, back to the heart. (Norbert Schauer e Christian Damish, 1985)”
SINTOMAS
Os sintomas aparecem geralmente em menos de 10 minutos em sujeitos saudáveis, apesar dos tempos de ocorrência variarem substancialmente consoante os indivíduos e seu estado, e constam, entre outros, de:
1) Mal-estar seguido de náuseas e tonturas
2) Dificuldades respiratórias; respiração superficial, rápida e irregular
3) Hipotensão
4) Taquicardia, arritmias
5) Parastesias (formigueiro nas extremidades: mãos e pés)
6) Perda de sensibilidade nas mãos
7) Lábios cianosados
8) Pele pálida
9) Suores frios (sudorese abundante); pele fria e pegajosa
10) Pupilas dilatadas
11) Alterações neuro-sensoriais
12) Inconsciência
13) Morte
FACTORES QUE PODEM AGRAVAR O RISCO DE OCORRÊNCIA DO SINDROMA DO ARNÊS:
1) Incapacidade da pessoa movimentar as pernas para incrementar a circulação sanguínea
2) Dor
3) Desidratação
4) Hipotermia
5) Choque
6) Fadiga
7) Patologias cardíacas e/ou respiratórias
Esqueci-me de referir que o sindroma do arnês não é, de facto, um mito, já matou numerosos montanhistas/escaladores e espeleólogos; e conhece-se, pelo menos, um cado numa gruta portuguesa.
Por último, apenas um reparo: a palavra "boudrier" escreve-se "baudrier" (do francês) e o termo português é "arnês".
Façam muitas grutas, mas não fiquem parados nas cordas :)
Post a Comment