20.11.08

A utilização pré-histórica da Gruta de Porto Covo

Conferência e lançamento do livro A utilização pré-histórica da Gruta de Porto Covo, monografia da autoria do arqueólogo e professor universitário Victor S. Gonçalves, que será também o primeiro volume da nova colecção “Cascais, Tempos Antigos”.

Informações pelo tel.:214815302.

Centro Cultural de Cascais

5ª feira (27 Novembro) às 18h00

RESUMO

A gruta de Porto Covo, tal como a de Poço Velho, fazia parte da estratégia de Carlos Ribeiro para o Congrés International d'Anthropologie et d'Archéologie Préhistoriques, IXème Session, que se realizaria em Lisboa no ano seguinte. Foi escavada em Janeiro e Fevereiro de 1879 por António Mendes, a mando de Carlos Ribeiro.

Publica-se agora também um documento inédito, o relatório de António Mendes sobre a distribuição de tarefas pelos trabalhadores, distribuídos por duas categorias, o que nos permite, pela primeira vez, analisar uma escavação do último quartel do séc. XIX em Portugal.

A gruta foi objecto de duas publicações muito sumárias, em 1942 e 1954, e foi praticamente esquecida até à exposição «Cascais há 5000 anos», realizada pela Câmara Municipal de Cascais no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa e de que o Autor foi Comissário Científico. A exposição abria exactamente com a taça lisa com pé de Porto Covo.

A gruta de Porto Covo foi certamente, e sem qualquer dúvida, uma necrópole… uma pequena necrópole onde se depositaram sete indivíduos, seguramente três mulheres e duas crianças (com menos de cinco anos) e quase certamente dois homens.

A sua pequena dimensão e situação isolada podem permitir a conclusão que se tratava de uma necrópole ocasional de um minúsculo núcleo de povoamento nada estável, pela cronologia que os ossos revelaram.

A ligação à terra de esses grupos lê-se através da simbólica, da importância dada ao machado, que corta as árvores, e à enxó, que limpa os troncos dos ramos adjacentes, os limpa da casca e os prepara para funções antrópicas.

Seis datações de radiocarbono permitiram identificar três momentos de utilização, dois no 4º milénio, um no 3º:

4º Milénio

1ª deposição funerária (♂♀).

Muito provavelmente, um Homem e uma Mulher, cujos ossos apresentam sinais de ocre vermelho.

2ª deposição funerária (♀♀)

Certamente duas mulheres.

3º Milénio

Única deposição funerária ()

Um Homem.

Em termos de rotulagem «cultural», estaríamos, em Porto Covo, sem qualquer margem para dúvida, no que habitualmente se chama (sem se saber ainda muito bem o que o que foi, em Portugal) de Neolítico médio.

Nenhuma das datações aponta a transição do 4º para o 3º milénio, onde proliferaram cerâmicas tão facilmente reconhecíveis como as taças carenadas ou os bordos recortados ou entalhados.

Finalmente, uma datação refere-se ao Calcolítico, não à sua fase inicial, mas ao que, grosseiramente, por falta de detalhes, com suporte da cronologia absoluta, designamos por Calcolítico médio. Talvez seja aqui o primeiro arranque das formas cerâmicas campaniformes, algumas derivadas das antigas taças de bordo espessado, agora fundidas, por vezes, a suportes de vaso troncocónicos e não hiperbolóides ou cilindróides, como no Cerro do Castelo de Santa Justa, no Alto Algarve Oriental .

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