Conferência e lançamento do livro A utilização pré-histórica da Gruta de Porto Covo, monografia da autoria do arqueólogo e professor universitário Victor S. Gonçalves, que será também o primeiro volume da nova colecção “Cascais, Tempos Antigos”.
Informações pelo tel.:214815302.
Centro Cultural de Cascais
5ª feira (27 Novembro) às 18h00
A gruta de Porto Covo, tal como a de Poço Velho, fazia parte da estratégia de Carlos Ribeiro para o Congrés International d'Anthropologie et d'Archéologie Préhistoriques, IXème Session, que se realizaria em Lisboa no ano seguinte. Foi escavada em Janeiro e Fevereiro de 1879 por António Mendes, a mando de Carlos Ribeiro.
Publica-se agora também um documento inédito, o relatório de António Mendes sobre a distribuição de tarefas pelos trabalhadores, distribuídos por duas categorias, o que nos permite, pela primeira vez, analisar uma escavação do último quartel do séc. XIX em Portugal.
A gruta foi objecto de duas publicações muito sumárias, em 1942 e 1954, e foi praticamente esquecida até à exposição «Cascais há 5000 anos», realizada pela Câmara Municipal de Cascais no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa e de que o Autor foi Comissário Científico. A exposição abria exactamente com a taça lisa com pé de Porto Covo.
A gruta de Porto Covo foi certamente, e sem qualquer dúvida, uma necrópole… uma pequena necrópole onde se depositaram sete indivíduos, seguramente três mulheres e duas crianças (com menos de cinco anos) e quase certamente dois homens.
A sua pequena dimensão e situação isolada podem permitir a conclusão que se tratava de uma necrópole ocasional de um minúsculo núcleo de povoamento nada estável, pela cronologia que os ossos revelaram.
A ligação à terra de esses grupos lê-se através da simbólica, da importância dada ao machado, que corta as árvores, e à enxó, que limpa os troncos dos ramos adjacentes, os limpa da casca e os prepara para funções antrópicas.
Seis datações de radiocarbono permitiram identificar três momentos de utilização, dois no 4º milénio, um no 3º:
4º Milénio
1ª deposição funerária (♂♀).
Muito provavelmente, um Homem e uma Mulher, cujos ossos apresentam sinais de ocre vermelho.
2ª deposição funerária (♀♀)
Certamente duas mulheres.
3º Milénio
Única deposição funerária (♂)
Um Homem.
Em termos de rotulagem «cultural», estaríamos, em Porto Covo, sem qualquer margem para dúvida, no que habitualmente se chama (sem se saber ainda muito bem o que o que foi, em Portugal) de Neolítico médio.
Nenhuma das datações aponta a transição do 4º para o 3º milénio, onde proliferaram cerâmicas tão facilmente reconhecíveis como as taças carenadas ou os bordos recortados ou entalhados.
Finalmente, uma datação refere-se ao Calcolítico, não à sua fase inicial, mas ao que, grosseiramente, por falta de detalhes, com suporte da cronologia absoluta, designamos por Calcolítico médio. Talvez seja aqui o primeiro arranque das formas cerâmicas campaniformes, algumas derivadas das antigas taças de bordo espessado, agora fundidas, por vezes, a suportes de vaso troncocónicos e não hiperbolóides ou cilindróides, como no Cerro do Castelo de Santa Justa, no Alto Algarve Oriental .
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