2.4.08

Respeitando as grutas, respeitam-se os colegas e salva-se a Espeleologia


"O homem cavernícola será uma relíquia de um mundo novo?

Seja como for, uma coisa é certa: ele deve, a todo o custo, conservar o seu meio de eleição, não perder, por sua culpa, as suas catedrais subterrâneas.

Amigos que fariam vocês se tivessem que renunciar à emoções das descobertas, à angústia das grandes descidas, ao bom odor húmido das grutas onde vivemos mais intensamente, onde nos ultrapassamos a nós mesmos e onde nos encontramos em silêncio e em paz? Iremos perder todas estas alegrias, todas estas razões de viver, por nossa culpa e por culpa de outros?

Para se ser espeleólogo é preciso ter uma certa personalidade, o que muitas vezes torna dificeis as relações entre indivíduos ou grupos de indivíduos, que, no entanto, são animados de um mesmo ideal, de um mesmo desejo.
Os grupos espeleológicos são muitas vezes competidores - quantas bulhas por causa de um buraco!
Dão-se guerras entre "tribos", guerras esgotantes e ridículas, que se saldam apenas em prejuízo para a espeleologia.

A boa harmonia é indispensável. Não falo de uma harmonia oficial baseada em regulamentos, arbitragens de uma federação qualquer, mas de um acordo cortês entre homens que prosseguem o mesmo objectivo, amam e respeitam as mesmas coisas.
Respeitando as grutas, respeitam-se os colegas e salva-se a Espeleologia.
(...)

Amamos as nossas grutas como artífice ama a sua obra-prima. devemos defendê-las e defender-nos contra a invasão tecnocrática do mundo subterrâneo.
(...)

Em cada região não faltam os grupos espeleológicos. Podem receber e guiar grupos estrangeiros às suas grutas. A harmonia e a confiança compensam; falo por experiência.
Escrevi este livro para que todos aqueles que se sentem atraídos pelas grutas saibam o que lá se passa.

Assim vocês são agora conhecedores das grutas e responsáveis perante elas. A vocês, homens do futuro, cabe agora vir em meu auxílio, ajudarem-me a transmitir esta mensagem. "


Michel Bouillon, in Descoberta do Mundo Subterrâneo, 1972

1 comment:

Unknown said...

Pois é, infelizmente existe gente que pensa que é imortal e esquece que a vida é para ser vivida em harmonia. E a vida é tão curta. Há quem viva agarrado ao passado, deixando de viver o presente.
Palavras sábias de quem realmente ama as grutas e a vida.
Um abraço lamacento